Em 1991, numa quarta-feira, no dia 16 do mês primeiro, já era 21:40 quando meu diário me viu muito aflita a escrever sobre uma guerra que começava. Escrevi com muita emoção e, quando fui ler recentemente, me impactei com o que havia escrito. A empatia com os povos sempre me arrebatou.
Àquela época eu tinha 16 anos e já encarava as notícias com muita preocupação.
Vivendo esse tempo de isolamento social, cercados por uma Pandemia ainda sem previsão de fim, confinada em casa com minha família, transborda saudades de tudo e de todos. Ando nostálgica e saudosista, tendo revisitados meus escritos antigos, ocasião em que me deparei com esse escrito no meu diário.
Passo a transcrever.
"16-01-1991
Quarta-feira
21:40
O que se esperava aconteceu.
Começou o bombardeio no Iraque e Kwait.
Era 3:00 da madrugada e muitos lá deviam estar dormindo.
Os EUA atacaram no escuro. Eles contam com um grande trunfo: a tecnologia.
Lá no deserto está havendo - como falam - A Tempestade. Fizeram chover bombas.
Nessa tensão toda, passa um avião aqui e meu coração ficou elétrico.
Estou muito abalada. Sem dúvida nunca vou me esquecer do que aconteceu hoje. De repente eu estou no quarto de meus pais e interrompem a novela para um plantão. Não pensava que fosse o começo de uma guerra. Estava acostumada a plantões só darem notícias de acordos e negociações. Mas, dessa vez foi diferente. Foi uma frase de impacto:
`Começa o bombardeio no Iraque, em Bagdá.´
Foi como se tivessem chegado para mim e dito friamente que um parente meu tinha morrido.
Mais tarde a TV transmite a ligação de um repórter americano que se encontra no Iraque e os sons da guerra. HORRÍVEL.
Ainda não acredito. Parece um filme. Talvez um dia essa guerra fará apenas parte da História, mas bem que eu gostaria que se voltasse atrás. Pois, hoje provavelmente acabaram-se as esperanças de alguns homens. ".
Como esse dia que eu relatei, onde a guerra venceu paz, certamente "nunca vou me esquecer" desses últimos dias, onde a humanidade ficou de joelhos por um ente microscópico que sequer é ser vivo.
Tempo em que a humanidade foi chamada a compreender que o que afeta o irmão também me toca.
Destaco que ainda sinto "como se fosse um parente" mesmo que a tragédia seja em distantes locais do mundo e com pessoas desconhecidas. Somos uma irmandade, a humanidade.
Não podemos deixar os fatos como "apenas parte da História", precisamos aprender com eles, evoluir, desenvolver amor e empatia.
Por fim, estamos num momento que também "Parece um filme", não podemos nos acostumar com o fim das "esperanças de alguns homens". A dor do outro importa.
Polyana Pimenta