terça-feira, 15 de setembro de 2020

Uma Orquídea

 

    Em meados de setembro

    Com perfumes e cores

    Na explosão da primavera

    Nascem lindas as flores

     

    Única em sua presença

    Vive em quase qualquer lugar

    Mas o gelo e a frieza

    Não consegue habitar

 

    De uma ternura resplandescente

    Os galhos e troncos envolve

    Se enche de vigor e cores

    E as rosas devolve

 

    É essa uma orquídea 

    Sensível, exuberante e rara

    Transforma a aridez onde vive

    Numa floresta encantada.

 

    Natal, 10 de Setembro de 2020.

 

    Poema escrito para presentear a amiga Ieda, a qual faz aniversário na chegada da primavera.


quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Ruínas

 Construo um coração novo

 Sobre as ruínas de um amor antigo

 E esse amor bem escondido

 Vai continuar em meu coração


 Saí na chuva

 Entreguei-me ao vento

 Mas só silêncio 

 Pude encontrar


 Abafei o sentimento

 Busquei um novo aconchego

 Mas o sossego 

 Não pude achar


Quanto mais me negava

Mais a paixão ardia

Sem querer eu cedia

E voltava a te lembrar


 Encontrei a solidão

 Chorei por não me livrar dela

 Foi então que cheguei-me à janela

 E pude observar


 As pessoas são tão paranoicas

 Não cabe a elas julgar

 Se tudo o que queremos é amar

 E encontrar felicidade


 E que embora não admitam

 Que eu ainda consiga te amar assim

 Sei que isso só diz respeito a mim

 E a mais ninguém


 Além do mais

 Melhor do que lutar contra mim mesma

 É ter a certeza

 Que embora te amando


 Posso amar mais alguém

 Pois já não mais me perturba

 A sua ausência escura

 Pois você brilha em meu coração


Natal 05-94

Polyana Pimenta

 

terça-feira, 14 de julho de 2020

Sentir o mundo

        Em 1991, numa quarta-feira, no dia 16 do mês primeiro, já era 21:40 quando meu diário me viu muito aflita a escrever sobre uma guerra que começava.  Escrevi com muita emoção e, quando fui ler recentemente, me impactei com o que havia escrito. A empatia com os povos sempre me arrebatou. 
         Àquela época eu tinha 16 anos e já encarava as notícias com muita preocupação.
       Vivendo esse tempo de isolamento social, cercados por uma Pandemia ainda sem previsão de fim, confinada em casa com minha família, transborda saudades de tudo e de todos. Ando nostálgica e saudosista, tendo revisitados meus escritos antigos, ocasião em que me deparei com esse escrito no meu diário. 
           Passo a transcrever. 

             "16-01-1991

Quarta-feira
  21:40

        O que se esperava aconteceu.
        Começou o bombardeio no Iraque e Kwait. 
        Era 3:00 da madrugada e muitos lá deviam estar dormindo.
        Os EUA atacaram no escuro. Eles contam com um grande trunfo: a tecnologia. 
        Lá no deserto está havendo - como falam - A Tempestade. Fizeram chover bombas.
        Nessa tensão toda, passa um avião aqui e meu coração ficou elétrico. 
       Estou muito abalada. Sem dúvida nunca vou me esquecer do que aconteceu hoje. De repente eu estou no quarto de meus pais e interrompem a novela para um plantão. Não pensava que fosse o começo de uma guerra. Estava acostumada a plantões só darem notícias de acordos e negociações. Mas, dessa vez foi diferente. Foi uma frase de impacto:
          `Começa o bombardeio no Iraque, em Bagdá.´
          Foi como se tivessem chegado para mim e dito friamente que um parente meu tinha morrido.
         Mais tarde a TV transmite a ligação de um repórter americano que se encontra no Iraque e os sons da guerra. HORRÍVEL.
          Ainda não acredito. Parece um filme. Talvez um dia essa guerra fará apenas parte da História, mas bem que eu gostaria que se voltasse atrás. Pois, hoje provavelmente acabaram-se as esperanças de alguns homens. ".

             Como esse dia que eu relatei, onde a guerra venceu paz, certamente "nunca vou me esquecer" desses últimos dias, onde a humanidade ficou de joelhos por um ente microscópico que sequer é ser vivo. 
             Tempo em que a humanidade foi chamada a compreender que o que afeta o irmão também me toca. 
           Destaco que ainda sinto "como se fosse um parente" mesmo que a tragédia seja em distantes locais do mundo e com pessoas desconhecidas. Somos uma irmandade, a humanidade. 
             Não podemos deixar os fatos como "apenas parte da História", precisamos aprender com eles, evoluir, desenvolver amor e empatia. 
             Por fim, estamos num momento que também "Parece um filme", não podemos nos acostumar com o fim das "esperanças de alguns homens". A dor do outro importa.  

Polyana Pimenta
        

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Expansão em Fluidez

Polyana Pimenta

A vibração inquieta
O momento é de limite
Quadrado o espaço
Inspiração num clique

Balanço de uma rede
Danço no mesmo luar
Pelúcias são plateia
As ideias a fervilhar

Displicência ao desviar
Dos móveis e batentes
Giro no mesmo eixo
Só não se pode parar

Numa bolha contida
Alargo a emoção
A fluidez se achega 
Cicatrizes da solidão

Delicadeza em cada gesto
O rodopiar reverbera
Máscara do isolamento
A dominar uma fera

Criatividade é o elemento
A envolver com aconchego
Instrumento de comunicação
Para desconectar o desespero

A melodia segue
O céu surge perfeito
Arrebate invecível
A libertar do medo.